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"Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema." (Torquato Neto)

10 de maio de 2016

Problemas de circulação


- Eu estava pensando... do que você mais gosta em mim?
- Como assim?
- O que realmente fez você se apaixonar por mim?
- Fácil! Suas veias.
- Minhas veias?
- Sim. Adoro como elas aparecem sob sua pele por todo o corpo. É como se fosse um mapa hidrográfico e eu pudesse seguir os caminhos da sua circulação com a ponta do dedo. 
- Veias?
- É! Gosto também do fato delas mudarem de cor. Alguns dias parecem esverdeadas, em outros azuladas. 
- Francamente...
- E amo ver como elas saltam e pulsam quando você está nervosa. Como agora. Tá zangada?
- É que minhas veias ficaram excitadas com os elogios.
- Reparei. Vem cá, me dá um beijo.
- Eu disse que elas ficaram excitadas, eu só estou com raiva mesmo. 

31 de janeiro de 2016

Do asfalto

Chego às três da tarde com o asfalto quente derretendo sob meus pés. Sei que não morri pois, ao olhar para trás, vejo pegadas. Não fosse por isso poderia ser um sonho. Não fosse isso e eu poderia não existir.
O carro, que atravessa a avenida às três da tarde, me joga a alguns metros de tal modo que meu corpo afunda no rio negro que é a rua, na torrente infecta que é a cidade. Percebo que existo porque meu corpo estendido faz sombra no asfalto mole, molda a lama preta que me engole. Sei que vivo ao vislumbrar o meu sangue ralo tingindo o meio fio às três horas da tarde de sábado. Se não sangrasse talvez eu estivesse morta. Ou talvez o sangue também não prove nada.
A ferida na minha coxa, onde a placa do carro rasgou a carne, me lembra que eu tenho um corpo, que sou pele, músculos, ossos e cabelo. A náusea que me toma também testifica que eu tenho órgãos, estômago, tripas, fígado. Mas ter um corpo não me faz existir, ainda que eu tenha fibras, ainda que tenha nervos que gritam ao sol das três da tarde de um sábado.
Ao contrário, percebo que existo porque reparo na flor miúda e pálida que brota da rachadura do passeio. Percebo que ela me encara, que aguarda meu movimento final. Partilhamos do mesmo ar enquanto ela me espera. E se ela é e me olha, sei que existo e que sou.  

9 de janeiro de 2016

Papel de jornal sempre solta tinta

            Fazia pouco mais de um mês que eu começara a ter problemas para dormir. Não sei se posso dizer que sofria de insônia. Eu não tinha, exatamente, dificuldades para adormecer e também não costumava despertar durante a noite como dizem ser comum. Na verdade, depois que adormecia, meu sono era tranquilo e profundo, de tal modo que muitas vezes encontrava grande dificuldade para despertar. De fato, como me levantava tarde, costumava dormir até dez horas por dia. Meu problema era o pavor que sentia daqueles períodos silenciosos que antecedem o mergulhar no sono. Esses minutos em que era forçada a ficar apenas com minha mente até o adormecer fizeram com que eu buscasse adiar ao máximo o momento de cerrar os olhos e me entregar. Criei artifícios para não ter que enfrentar esses minutos assombrosos de zunido na minha mente. Recorria à literatura ou, quando me sentia muito cansada, ligava algum filme na TV do quarto, uma história supérflua de preferência, para que a minha cabeça pudesse descansar e a programação servisse apenas de ruído, sussurros ininteligíveis que preenchessem o ambiente. Por meio dessas estratégias me forçava a permanecer atenta até que meu corpo não suportasse mais e minhas pálpebras se fechassem sozinhas de exaustão.
Tais artifícios me possibilitavam burlar as etapas que precedem o sono, mas também me proporcionavam experiências inesperadas. Ao me impor o estado de alerta chegava um momento, alguns segundos antes de desmaiar de cansaço, em que me perdia em um estado fluído entre o sono e a vigília. Esses instantes, em que sonho e realidade podiam dialogar e se confundir, expunham novas perspectivas à minha mente que, imersa no onírico, agora já não podia mais ser censurada pelo meu pavor. Parcialmente adormecida, trechos de livros que eu me obrigava a permanecer lendo até os olhos arderem de cansaço se misturavam com imagens do meu inconsciente, resultando em insólitas reflexões. O mesmo ocorria com os filmes cujas cenas se embaralhavam com meus devaneios.
            Foi em um desses segundos de confusão que, em mais uma noite fugindo da espera solitária pelo sono, saltou das páginas do livro que estava lendo a questão: “O que você esconde por trás da pele?”. As palavras pairavam em tinta preta a alguns centímetros do papel, enquanto o restante do livro perdia o foco em cinza desbotado.  Quando acordei a frase continuava a me atormentar e por mais que repassasse os trechos lidos do livro, não conseguia localizá-la. Nas noites seguintes a pergunta continuava a aparecer sempre que o entorpecimento distorcia a minha realidade. Não importava o livro, era sempre ela a dançar diante de mim, com o mesmo tom de escárnio, ou assim interpretei.  
            Embora eu conseguisse dormir por horas sem interrupção, a necessidade de adiar o adormecer fazia com que na maior parte das vezes eu caísse no sono apenas de manhã, o que me proporcionou não apenas olheiras bem marcadas, mas uma sensação de fadiga constante. A letargia paralisava meu corpo e mente, quadro que se agravava pelo fato de eu estar desempregada e passar as horas no sofá. Nesses momentos, entregue à indolência e aos apelos das almofadas macias nas quais me afogava, aquela pergunta estranha ressurgia. Quanto mais as olheiras me tomavam o rosto, mais insistentemente as palavras pulsavam diante de mim e paralisavam meu pensamento. Sempre tive predisposição às obsessões.
            Decidi que naquela noite seria melhor não abrir nenhum livro e preencher a espera silenciosa pelo sono com a TV. Quando os sonhos começaram a invadir meu quarto ouvi, num assombro, o protagonista do filme que rodava no DVD perguntar: “O que você esconde por trás da pele?” Embora sonolenta, a frase chamou minha atenção e com muito custo tentei me concentrar nas imagens que piscavam na tela. O personagem parecia olhar para mim e mais uma vez me questionou.
          Eu precisava descobrir o que abrigava dentro de mim para, enfim, poder dormir em paz, sem subterfúgios, sem pavor. Só assim minhas olheiras desapareceriam e eu pararia de alucinar. Levantei meio sonâmbula e fui até o banheiro procurar uma tesoura de unha. Assim que a encontrei dentro da primeira gaveta tentei controlar minha mão direita cuja coordenação se deixara afetar pelo sono. Quando senti que meus dedos estavam firmes cortei um pedaço da pele do braço esquerdo, corte pequeno, porém, fundo. Saiu menos sangue do que eu esperava. Abri a torneira e coloquei a ferida debaixo da água fria, lavando o pouco sangue que brotara do corte.  Quando senti que estava limpo o suficiente, tentei abri-lo o máximo que conseguia para enxergar melhor o que se ocultava ali. Havia, de fato, algo que não se assemelhava a carne lá dentro, mas pelo pequeno buraco não era possível identificar do que se tratava. Estimulada pela descoberta fiz um outro corte no braço, dessa vez bem maior. Mais uma vez quase não houve sangue e tampouco encontrei carne, o que se escondia por debaixo da minha pele, pude então perceber, era papel. Mesmo com umas pequenas manchas de sangue notava-se que havia algo escrito ali, embora não conseguisse decifrar o que era.
            Fui até a cozinha e com uma faca retirei o resto de pele daquele braço. Não sei dizer se senti dor, o torpor no qual me encontrava parecia ignorar quase tudo, exceto meus olhos que inexplicavelmente ardiam. Além disso, eu era, percebia agora, feita de papel e talvez todas as vezes que senti dor não tenham passado de uma ilusão, um ardil do meu cérebro. Quando cortei a pele do braço direito, no entanto, senti grande dificuldade, afinal, de carne ou de papel, eu continuava sendo destra. Retirei também a pele das pernas e ali encontrei o mesmo, pouco sangue e nenhum músculo, no lugar apenas um papel fino tomado por letras pretas. Embora restasse pouco espaço em branco no papel, eu não conseguia ler o que estava escrito pelo meu corpo. Concluí que o texto só se revelaria quando eu me despisse de toda a epiderme que me escondia, que calara por anos o que eu de fato era.
A manhã já avançava quando terminei. Ao olhar no espelho pude contemplar, pela primeira vez, a minha verdadeira forma. Para o meu desespero, no entanto, finalmente percebi que os escritos em mim não passavam de letras aleatórias, sem qualquer significado.




19 de novembro de 2015

O novo ano tem cheiro de naftalina

É fim de ano. Os gatos andam assustados, com o rabo entre as pernas. Sorrateiros, se encolhem e esfregam a barriga no chão tentando se esconder embaixo da terra. Se enfiam em buracos e frestas, nos mínimos vãos. Sentem medo, farejam no ar a farsa do antigo vestido em uma nova roupagem que cheira a pólvora e espumante barato. São nove da noite, chequei meu e-mail: inúmeras mensagens entupindo minha caixa de entrada com votos genéricos de felicidade. Apaguei-os um a um. Poderia ter selecionado todos de uma só vez e enviado para a lixeira, mas senti prazer em deletar e-mail por e-mail com tranquilidade, como demoradas alfinetadas em cada um de meus remetentes. A festa já havia começado fazia tempo e eu estava atrasada, pensando nos gatos, pensando na pólvora, pensando na farsa.
Cinco para as dez, estou pronta para ir. Estou bonita, em um vestido branco colado, o tecido de renda destaca bem os meus seios e os meus quadris. Branco sempre me vestiu bem, mas hoje me sinto ridícula, uniformizada em meio a uma multidão de pessoas que se assemelham a ovelhas, tanto na cor quanto na passividade. Fico com raiva e enfio uns sapatos vermelhos.
Dez e vinte. Logo que chego, tio Carlos diz que eu me pareço uma princesa, me aperta as bochechas e dá uma piscadela enquanto sussurra “Carol, minha bonequinha”. Não sabia que ele estaria lá, entendo a referência e me assusto, volto a ter seis anos.
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Vovó sempre dizia que tio Carlos era um brincalhão, que aporrinhava as meninas, mas era só de graça. Mas desde que eu era criança nunca havia achado graça no tio Carlos. Titio gostava de pegar as sobrinhas no colo, mas não era colo gostoso de pai, chamava a gente de “namoradinha” e vez ou outra me virava e mordia minhas coxas. Titio também pedia para ver as nossas calcinhas, dizia que tinha curiosidade, porque nunca tinha visto calcinhas tão bonitas assim, rosinhas e de lacinhos. A gente obedecia e mostrava, porque titio era adulto, mandava, e nós éramos suas “bonequinhas”. Mas sempre que encontrava com ele sentia minha garganta contraindo e passava o resto da semana com as amídalas inflamadas e doloridas. 
Desde que me lembro minha garganta sempre foi o ponto mais frágil do meu corpo. Certa vez tive uma crise de amigdalite que me impediu de comer qualquer coisa sólida. Era janeiro, época do ano em que costumava ir para a casa de praia com meus pais e minhas primas. Daquela vez tio Carlos também tinha sido convidado para nos acompanhar na viagem. Embora eu tenha passado uma semana me divertindo com banhos de mar, brincadeiras na areia e passeios na praça, o que a lembrança dessas férias me traz, ainda hoje, é um peso nos ombros e no estômago que parece me fazer diminuir vários centímetros. Foi também nesse período que, apesar de já estar prestes a completar oito anos, minha prima Bete voltou a fazer xixi na cama, embaraço que a acompanhou todas as manhãs, na hora de despertar, não só durante nossas férias mas até os seus dez anos. 
Em uma de nossas tardes na praia, tio Carlos levou Bete para dar um passeio, iam comprar sorvete, ele disse. Naquela manhã eu havia acordado com a garganta quase fechada pelo inchaço das amídalas, fui obrigada a permanecer na cama e expressamente proibida de tomar qualquer coisa gelada. Quando Bete voltou, ela teimava em não me contar de que sabor tinha sido o sorvete e porque não trouxera um escondido para mim. Fiquei com raiva e puxei os cabelos dela, Bete chorou e eu passei o resto do dia de castigo, lamentando a garganta inflamada e o sorvete de morango que tinha certeza que Bete tomara inteirinho, sozinha. 
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Dez para meia-noite. Evitei nosso tio a festa inteira. Bete não viria, disseram que tinha planos com o marido e uns colegas do trabalho. Não esperava mesmo encontrá-la, há anos ela se distanciara da família. Olhei ao redor, tio Carlos estava sentado no canto da sala, sozinho, encolhido como se tentasse se fundir na parede. Tinha envelhecido muito, com seus ombros caídos, tão encurvado que parecia querer sumir dentro de si mesmo. Nossos olhares se cruzaram e o que vi foi o vazio por detrás daqueles olhos vermelhos. Tremi.
Meia-noite. Primo Marcus estourou o champanhe. Nos abraçamos em uma confusão de branco, espuma e felicitações. Meu sapato vermelho dançava naquela massa e me lembrava que eu tinha cor. Marcus me abraçou apertado e me beijou na ponta do nariz. Ninguém abraçou tio Carlos, exceto vovó. Ele permanecera sentado na poltrona no canto da sala. Mas ela, com seu passinho arrastado, levou para ele uma taça de champanhe e um pratinho com torradas e doces, abraçou o filho com tanto carinho que parecia preencher o oco que era o corpo dele. Senti meus músculos se contraírem e o bolo que se formou na minha garganta bloqueou a bebida. Cuspi de volta na taça.
Meia-noite e vinte. Entrei no carro e dirigi rumo a minha casa. Não conseguiria permanecer naquela festa. Não queria pensar mais em tio Carlos, em calcinhas de lacinho, naqueles olhos caídos e vazios, em Bete e seu distanciamento, na família omissa e em vovó que afirmava que o filho “era um bom menino, só que muito brincalhão, gostava de aporrinhar as mocinhas”, mas tinha na voz um tom triste de dar dó.

Vinte para uma. Já no sofá, espanto com as mãos as histórias do passado que aquela festa desenterrara. Apago titio, apago vovó. Olho para os meus sapatos vermelhos, é um novo ano. Penso em pólvora, penso em espumante barato, em branco tedioso, penso em gatos se esgueirando, sorrateiros pelos telhados, escondendo-se em buracos... pressentindo, com medo, que o novo é só o velho, fantasiado de tule e seda, cheirando à naftalina.

3 de setembro de 2015

Palavras

Papéis espalhados na estante sangram tinta, feridos por palavras que, juro, não gostam de mim. Relembro velhos tempos em que elas pareciam sólidas, em que se pareciam menos comigo: menos fumaça, mais fogo.
Matricidas, elas devoram minhas entranhas, sugam meus fluidos, e se parecem mais comigo: menos carne, mais osso.
Juro que as odeio, que as enforco no papel, que as vomito no vaso, que cuspo pragas e acendo velas para que se percam. Mas elas voltam, sempre voltam, com cheiro de palavras novas e, no entanto, ainda sempre as mesmas, dissimuladas matricidas que envenenam a saliva na minha boca seca. 

29 de julho de 2015

Urbana

Minhas botas batem nas pedras em mosaico da calçada. Compõem música, a cada passo ritmado, que ecoa pelas ruas vazias da cidade. Sou uma escultura de ossos quebradiços, papel e metal enferrujado. Meu cabelo, pele e neblina se confundem em meio a madrugada, escorrem do passeio ao asfalto em cascatas de água salgada.
Não pedi que você me acompanhasse ao inferno. No entanto..., no entanto..., sua sombra cobre meu corpo enquanto caminho pelos becos da cidade. Me pesa os ombros, peito, pés e pescoço, verga meu corpo em direção à poeira da calçada. Com as mãos em concha eu bebo a água empoçada, quente, grossa, suja. Se na chuva ela me cura, colhida da poça me envenena garganta, fígado, alma.

Vejo partículas da minha pele, fios de cabelo, perdendo-se em meio as rachaduras do passeio e, embora a roupa me cubra, quase, quase não me resta pele. A boca do tempo me alcança na madrugada, me mastiga, rumina, vomita. E se na luz do dia me ilumino, eu me desfaço, desintegro, na noite da cidade.  

6 de julho de 2015

Respiração

Puxo o ar pelo nariz, conscientemente encho os pulmões, solto pela boca. Tento de novo, mas não consigo manter o ritmo, solto o ar antes que o pulmão esteja cheio, puxo antes que esteja todo vazio. Confundo os movimentos respiratórios, qual era o certo mesmo, encher o peito ou o abdômen? Começo a sugar o ar pela boca como se estivesse bocejando, mas não é sono, é só urgência em suprir a falta de ar que o exercício, executado errado, me proporciona. Começo a ficar tonta e me esqueço de como respirar naturalmente. A ansiedade me faz esquecer também como piscar os olhos e como engolir saliva automaticamente. Passo a controlar os movimentos: fecho os olhos, abro, puxo o ar, solto, engulo o cuspe.
Ajeito o telefone no gancho, apago a luz da sala, ainda tonta pela forma desregular que o ar entra nos meus pulmões, e volto para o quarto. Paro na porta, fecho os olhos, abro. Puxo o ar, solto. Engulo saliva.
Ele desvia o olhar do livro e me encara meio debochado, meio irritado:
- Por que você tem mania disso?
- Isso o que?
- Vez ou outra começar essa respiração descoordenada.
- São exercícios respiratórios, ué. Dizem que relaxa.  
Era mentira, mas de que outro modo poderia explicar que havia me esquecido como se respirava? Isso para não falar na saliva que se acumulava na minha boca e que eu tentava disfarçar, preparada para engolir discretamente assim que ele voltasse para a leitura.
Ele dá uma risada que parece mais um sopro de impaciência, como se empurrasse todo ar com a garganta enquanto mostrava os dentes amarelados de café e cigarros.
- Não me parece muito relaxante. Na verdade, você me parece até meio roxa. Quem era no telefone?
Fecho os olhos, com força, abro. Esqueço de puxar e soltar o ar antes de engolir a saliva e engasgo.
- Você sabe...
- Mas hoje nem é seu aniversário... aconteceu algo?
- Convite para o almoço de dia dos Pais... Casa dele.
- Entendo... e nós vamos?
Esqueço novamente como se respira. Sugo o ar pela boca, como se bocejasse, mas na verdade só anseio por encher meus pulmões de ar. Esqueço como se pisca e como se engole a saliva mecanicamente. Fecho os olhos, abro. Puxo o ar com o nariz, com todo o corpo, mas solto antes mesmo de sentir o peito cheio. Parece que me afogo. Engulo cuspe. Engulo de novo.
- Posso entregar o cartão de felicitações em branco?